domingo, 13 de julho de 2014

Israel ou Palestina?


Nos últimos dias tenho visto a repercussão nas redes sociais sobre os recentes ataques entre Israelenses e Palestinos no oriente médio. Muitos defendem arduamente seus pontos de vista, e isso é bom, demonstra que problemas que aparentemente não nos afetam diretamente aqui no ocidente estão sendo conhecidos e nós com nosso senso humano estamos partindo em defesa do que acreditamos ser o melhor.

O problema quanto às posições que vejo as pessoas tomarem e defenderem nas redes sociais surge quando muitas vezes pela ignorância, e aqui me refiro à falta de conhecimento, informação sobre o problema, não entendem de fato o que ocorre naquela região e passam a atacar um lado da história, de forma alienada, apenas com base nos últimos fatos narrados pela imprensa e por aquilo que veem nas próprias redes sociais, sejam imagens, vídeos com destruições, mortes de crianças, entre outros. Acredito que apenas vivenciando a realidade destes povos, ou pelo menos conhecendo a história de cada um para se ter uma real noção de quão grande é o impacto na vida de quem vive ali. Porém, o que mais me impressiona é que tudo isso é uma verdadeira aula de história, do mundo e das civilizações, e apenas com o intuito de contribuir um pouco com o esclarecimento de quem interessar foi que fiz esse texto.

Quando entramos na faculdade, estudamos a história de como todo o direito que temos hoje se formou na antiguidade, e isso não aconteceu de uma hora pra outra, do dia pra noite. Centenas e milhares de anos de pura história é que mostram as mudanças no mundo. A Lei das Doze Tábuas, na Roma antiga, por exemplo, e o Código de Hamurabi, antigos escritos oriundos da Mesopotâmia, pedaços de terra correspondente ao atual Irã, já nos trás certo regramento que era seguido pelos povos na época. Porém, mesmo que parte das pessoas ignorem, historicamente as leis divinas também influenciaram no comportamento das pessoas, e não quero aqui entrar no mérito da questão religiosa, mas em tempos ainda mais antigos era o que se tinha, você apenas escolhia seguir os preceitos ou não com base naquilo que Deus enviava para o seu povo, como os Dez Mandamentos por exemplo. Partindo dessa premissa, é fato que tais princípios, preceitos e regras atravessaram o tempo e influenciaram todos os povos em suas leis e códigos que regram a conduta do ser humano. Quem conhece um pouco da história sabe que os povos que saíram do Egito antigo (os hebreus) naquela época se uniram, estabeleceram-se em um local e formaram um reino que foi próspero durante muito tempo, pois se passaram gerações desde então. Porém esse mesmo povo que migrou do Egito foi alvo de ataques de hititas, filisteus e outros como os assírios que com o passar do tempo conseguiram tomar o que lhes pertenciam e também se estabeleceram ali. Com essa mistura de povos, oriundos do Egito e antigos árabes que viviam em regiões próximas, além de diversas outras tribos e povos que ali também chegaram, foram que as regras e leis começaram a se misturar. Os povos árabes, e outros, por exemplo, eram politeístas, acreditavam em mais de um Deus, e adoravam objetos entre eles. As leis da época eram interpretações dos reinos e das religiões oriundas de Abraão muitos anos antes (do qual se desenvolveram as três maiores vertentes religiosas da humanidade: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo), Mas também se mantiveram as comunidades monoteístas que acreditavam apenas em um Deus, boa parte delas oriundas dos povos hebreus do antigo reino que ali havia se fundado trazidos por Moisés do antigo Egito. Moisés era um líder religioso e político, já que naquela época não se existia distinção entre religião e política. A lei era a interpretação dos ensinamentos divinos.

A partir desse ponto, e considerando as diversas culturas, religiões e leis que estavam misturadas numa só região, é interessante notar que surge Maomé, considerado pelos muçulmanos (os seguidores do Islamismo) o último profeta da linhagem de Moisés e por consequência descendente direto também de Abraão, mas que causou forte impacto nas tribos de toda a região. Ele unificou os ensinamentos do Islã, não tão disseminado pelo mundo até então, desde a época das primeiras religiões, e sendo assim, para os muçulmanos, Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica.

Maomé não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos. Os muçulmanos acreditam em um só Deus e uma só lei, e quase todos estes preceitos estão reunidos no Alcorão, o livro sagrado para quem segue o Islã.

Lembra que falei de um povo, os hebreus, que saíram do Egito há muitos anos e se estabeleceram como um povo e um país? Lembra também que povos de outras regiões tentaram e algumas vezes conseguiram tomar as terras daquele povo, e que por isso houve por muito tempo disputa de terras, reinos, e uma mistura de culturas, política e religião? Bem, depois de muito tempo e várias gerações os Judeus foram os únicos que restaram daquele antigo povo que habitava ali e haviam tido suas terras invadidas por outras tribos (países). Mas aí veio outro problema, já em um capítulo recente da história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial resultou na morte de mais de seis milhões desses judeus que já estavam espalhados pelo mundo e foram exterminados nos campos nazistas, e com o fim da guerra, o mundo se deparou com as sequelas de anos de crueldade. Todos então passaram a ajudar os judeus e levá-los novamente para a região da palestina, onde já havia muitos deles, pois era sua terra natal, e que naquele momento, após séculos de disputas estava sob o poder da Inglaterra, pois a Palestina era uma concessão britânica. A região da palestina na época era composta do que hoje são vários países vizinhos a Israel.

Pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1947, a ONU, a pedido do Reino Unido, criou o UNSCOP (United Nations Special Committee on Palestine), uma comissão para elaborar o plano de partição daquela área que era conhecida como Palestina, mas que não era um país. O plano consistia na divisão do território em dois Estados - um judeu e outro árabe -, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controle internacional, pois eram cidades importantes para as três maiores religiões do planeta e seus povos, os judeus (englobando também os cristãos), como também os muçulmanos. A criação do Estado judeu passou a ser vista pela opinião pública em todo o mundo como uma forma de reparação pelo Holocausto.

Em 1947, em assembleia realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), presidida por um brasileiro, Oswaldo Aranha, foi deliberada a divisão da região da Palestina em dois Estados, o Estado Judeu e o Estado Árabe. Só que em maio de 1948, apenas os judeus fundaram oficialmente o Estado de Israel. No entanto os árabes (muçulmanos) não aceitaram que aquele povo vivesse ali, mesmo que já estivessem ali há séculos, e que suas terras fossem dividias, pois queriam ter o total controle sobre tudo e todos. A revolta dos países árabes foi imediata à criação do Estado de Israel. Isso culminou na primeira guerra oficial entre árabes e israelenses, em 1948. Mas Israel mesmo pequeno venceu a guerra, e os árabes que vivem na região da palestina (que não é um país, pois eles, ao invés de fundar também seu Estado assim como fez Israel, preferiu atacar a nação dos judeus) desde então vivem em guerra com Israel e sua população, e não tem um país pra chamar de seu.

Tudo isso que relatei são fatos históricos para explicar melhor os fundamentos, diferenças, e nelas as explicações, sobre o porquê destes eternos conflitos armados que tem um motivo infinitamente maior que uma simples disputa de terra. Por um lado, temos um país que foi criado, organizado, e passou a ter autonomia política e administrativa, sendo reconhecido no mundo inteiro. Por outro lado, temos um povo que sendo contra esse novo Estado passou a disputar as terras exatamente como acontecia no início da história, com a diferença que hoje usam mísseis, bombas, e todo um aparato tecnológico. O problema dessa disputa, é que Israel está localizado geograficamente cercado de nações árabes, sendo então um Estado solitário no meio de então “nações hostis”.

Tudo isso poderia ser facilmente resolvido se a Palestina viesse a ser oficialmente um país, também organizado, com política própria e autonomia. O Estado de Israel até devolveu para os árabes muitas das terras que foram tomadas durante esses conflitos desde sua fundação, como forma de mostrar que eles também concordam que cada povo viva em paz cada um no seu lugar. Por Israel ser um país administrativamente organizado, o governo israelense subsidiava a transferência de dinheiro, impostos e custeios para a Palestina, pois teoricamente a Palestina não existe e está sob controle administrativo de Israel. Atualmente, os palestinos, que são em sua maioria árabes muçulmanos, lutam pela criação desse Estado independente, mas essa questão esbarra na política e na religião.

A Organização para a Libertação da Palestina foi um movimento criado pela Liga Árabe e representa o povo palestino até hoje, organizam eleições parlamentares para tentar se organizar no cenário internacional. Em 1993 o então presidente da OLP, Yasser Arafat, reconheceu o Estado de Israel numa carta oficial ao primeiro-ministro daquele país, Yitzhak Rabin. Em resposta à iniciativa de Arafat, Israel reconheceu a OLP como a representante legítima do povo palestino. Arafat foi presidente do Comitê Executivo da OLP de 1969 até a sua morte, em 2004. Parecia que enfim, as duas nações haviam chegado a um acordo e reconheciam uma a outra. Só que em 2006 um grupo chamado Hamas venceu as eleições parlamentares na Palestina, passando a comandar o parlamento e a Autoridade Nacional Palestina. A organização que até então era comandado pelo grupo Fatah (grupo do Yasser Arafat, que reconheceu Israel e promoveu a paz entre eles) sofreu uma mudança radical em sua administração. O Fatah e o Hamas são como partidos políticos, só que completamente opostos um do outro. A diferença básica está em:

Fatah significa: Movimento de Libertação Nacional da Palestina. Uma organização política e militar, ou seja, andam completamente armados. É nacionalista e Laico, ou seja, defendem a criação do país, mas não misturam religião e governo. Por isso o mundo ainda aceita e concorda com suas negociações.

Hamas significa: Movimento de Resistência Islâmica. Também é uma organização política e militar, só que é um movimento fundamentalista islâmico. Defendem a imposição do Islã e suas regras, a tomada de controle do Estado de forma a impor o sistema islâmico, controla todos os aspectos sociais da sociedade através da lei islâmica de forma rígida e se necessário até com uso da força para isso. São extremamente fechados às negociações. Para efeito de melhor compreensão, um famoso líder de um movimento fundamentalista islâmico foi Osama bin Laden, seu grupo, a al-Qaeda, também usa de armas e bombas para atacar qualquer que seja contra os ensinamentos do Islão e defendem um país completamente regido pelo Islamismo. Não quero comparar o Hamas com a al-Qaeda, apenas demonstro aqui suas ideologias muito próximas. O Hamas usa um discurso de ódio contra Israel, basta verificar o Estatuto do Hamas que isso fica claramente visível. Seu lema é: “Nós amamos a morte assim como os judeus amam a vida.”

Texto retratado no Estatuto e suas coleções:

“...O Movimento de Resistência Islâmica aspira concretizar a promessa de Alá, não importando quanto tempo levará. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse; "A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o, exceto se se tratar da árvore Gharkad, porque ela é uma árvore dos judeus." (coleção de Hadith de Bukhari e Muslim)”

Art. 15 No dia em que o inimigo conquista alguma parte da terra muçulmana, a jihad (guerra santa) passa a ser uma obrigação de cada muçulmano. Diante da ocupação da Palestina pelos judeus é necessário levantar a bandeira da jihad (guerra santa). Isso exige a propagação da consciência islâmica nas massas, localmente (na Palestina), no mundo árabe e no mundo islâmico. È necessário instilar o espírito da jihad (guerra santa) em toda a nação, reunir todas as fileiras dos combatentes da jihad (guerra santa) envolvendo os inimigos.

Art. 16 É necessário educar as próximas gerações, em nossa região, dentro dos caminhos islâmicos, com base no cumprimento das obrigações religiosas, com acurado estudo do Livro de Alá, estudar a sunna (os costumes) do Profeta, com a leitura atenta da história e legado islâmicos, mas baseados em fontes confiáveis, e submetidos às instruções de especialistas e entendidos, com metodologia competente que ensinem a visão global do pensamento e da fé. Ademais, é necessário um apurado estudo do inimigo, suas condições humanas, e capacidade de ação, para ficar familiarizado com suas fraquezas e seus poderes, para conhecer as forças que o ajudam e apoiam. Também é necessário ficar a par dos acontecimentos, acompanhar os novos desenvolvimentos e estudar as análises e comentários relativos ao inimigo. Também se faz necessário planejar para o futuro, estudando cada um e todos os fenômenos, de maneira que os muçulmanos que se dediquem à jihad (guerra santa) possam viver com completo e total conhecimento de seus fins e seus objetivos, e caminho a seguir, e com total conhecimento do que está ocorrendo em sua volta.

Além disso, eles defendem o estabelecimento de um Estado muçulmano em terras que hoje são Israel. Possuem também amplo apoio popular, pois o grupo se preocupou em investir de certa maneira nos serviços que são oferecidos ao povo pelo governo. É como você investir em programas sociais dando dinheiro e oferecendo benefícios ao povo que já é pobre com o intuito final de ganhar uma eleição com os votos deles.

A partir daqui, já podemos enxergar as gritantes diferenças que existem entre o antigo grupo que dominava a Palestina e o que está atualmente no poder (Hamas). O grupo Hamas hoje controla a região da Palestina e a Faixa de Gaza, ao lado do Estado de Israel, e por suas ideologias religiosas e por consequência políticas, não aceitam que Israel tenha se organizado e crescido como nação nos últimos anos, e que tenham de certa forma autonomia sobre eles, por conta disso, são completamente intolerantes a qualquer decisão que Israel venha a tomar e por inúmeras vezes seus membros se infiltram na sociedade israelense com o intuito de desestabilizá-los baseados em sua fé islâmica.

No último fato marcante, no mês passado, três adolescentes israelenses foram sequestrados. Semanas depois foram encontrados mortos em uma área de controle do Hamas. Prova cabal de um governo intolerante que não aceita a diferença entre seus povos, diferentemente de Israel, onde mesmo que sua maioria seja de Judeus, conseguem conviver pacificamente com árabes muçulmanos que também vivem e trabalham em seu país.

Ao se analisar bem a situação, verifica-se que é mais do que uma disputa por terras, mas sim por controle ideológico de um povo. Se Israel não se defender das ameaças poderemos ver um novo holocausto. Se o Hamas e a Palestina não fossem tão fechados e intolerantes, poderíamos ter dois países vivendo em paz cada um em seu lugar.

Qualquer pessoa em sã consciência neste mundo será a favor da criação de um Estado árabe para que os muçulmanos possam viver em paz. Mas falar e defender apenas um lado da história é muito simples. O difícil é se colocar na posição de cada um e tentar avaliar a real ideologia de cada povo, que é o que está por trás de toda essa guerra que já tem mais de dois mil anos de história.

Levi Ferreira

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